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quinta-feira, 26 de maio de 2011

VERSOS SOBRE OS INVERNOS OU SECAS NO NORDESTE BRASILEIRO

VERSO QUE FALA SOBRE O INVERNO OU SECA NOS RINCÕES DO NORDESTE BRASILEIRO AQUI RETRATA A REALIDADE NUA E CRUA DO NOSSO POVO SOFRIDO DO ALTO SERTAO QUE NASCEM NA CARIDADE ESPERANDO ESMOLAS DO GOVERNO E MORREM NA ESPERANÇA QUE ISSO AQUI UM DIA TUDO VAI MELHORAR......




01 02



Peguei no pincel do tempo Nuvens escuras cobrem o céu

tinta da imaginação Quando como serra

papel peguei no espaço relâmpagos muito fortes

com deus a concentração como claridão de guerra

para falar do inverno trovões dando estampidos

no nosso largo sertão de estremecer a terra

É pelo mês de Outubro A terra sente o calor

o homem poda o algodão a temperatura aumenta

aquelas matas mais virgens as nuvens vão se rasgando

é feita a devastação o espaço não aguenta

encoivara e arranca o toco o pêso imenso das águas

bota fogo e queima o chão lá de cima se arrebenta

Tudo isso são preparo Alaga o nosso planeta

para uma boa agricultura enchem lagos córregos e rios

corta terra prega arame campo o gado se espanta

cerca com pouca espessura do mato ouve assovios

transforma o solo saudável dos animais sem abrigos

desta nossa terra dura gemem e sentem frios

Em janeiro e fevereiro Bem que disse, bem que disse

ou mesmo o mês de março Anuncia o bem-te-vi

já sentimos o calor a chegada do inverno

aquele forte mormaço lá responde a juriti

esse sim é o período também canta o sabiá

da chuva vir do espaço na estrada no jataí



03 04



Canta também anum branco No chiqueiro ronca o porco

em cima da ingazeira bezerro no curral mama

o pássaro preto que pula vaqueiro tirando leite

nos galhos da capoeira se escorregando na lama

e começa a aparecer a esposa treme de frio

o velho fura – barreira e se espreguiça na cama

Já nos rios correm os peixes Em alguns lares o aperreio

fazendo as suas desovas com goteira que respinga

as aranhas muito espertas troca de móveis e de leito

saem de dentro das covas e menino choruminga

para não se afogarem e o pobre pai de família

dando do inverno as provas na sua casa toma pinga

Durante o dia o sol quente Já outros dormem tranquilo

e sempre, sempre o calor nada disso lhe encomodas

a noite muda de clima ouve os pingos no telhado

como ordena o senhor sapos nos lagos fazem rodas

o infinito escurece poetas cantam alegres

por ordem superior nos rádios canções e modas

O maestro que desperta o pobre agricultor

é o velho galo de campina tranqüiliza o coração

com o seu formoso canto dorme pouco, pensa muito

a garganta não desafina em cuidar da plantação

desse pássaro colorido cobre seus filhos que dormem

como objetos em vitrina uns em redes outros no chão





05 06



E todos ali dormindo Assim amanhece o dia

só o sertanejo escuta o sol no monte surgindo

o estrondo do trovão com raios aquecedor

que responde lá na gruta todo frio vai cobrindo

isso é a seca com o inverno duma noite enchuvalhada

que quer fazer pergunta a luta vão prosseguindo

E passa a noite pensando Nessas alturas a mulher

“as coisas vão melhorar já tem feito o seu café

corre o sentido na roça naquele fogão que solta

que não deixou de queimar fumaça no chaminé

pede a Deus que venha o dia e todos comem tranquilos

para poder ir plantar” sempre em Deus sua fé

Logo o jumento relincha O homem vai sasisfeito

informando com alegria se atola nos caminhos

é a aurora rompendo nos poços das água presas

os pássaros dão melodia que juntam nos buraquinhos

nas copas dos arvoredos os garotos correm e atira

sai a noite e chega o dia pedrada nos passarinhos

Nisto todos se levantam Chega o homem no roçado

o sol inda prá nascer com a enxada cava o chão

bate a enxada lá fora a esposa e os meninos

vai a semente escolher vão semeando com a mão

o pai pede acabaça grão de milho em uma cova

prá o filho mais novo encher noutra cova vai feijão



07 08



Milho, feijão é plantado E no fim de fevereiro

arroz, verdura, algodão o milho vai penduando

gergelim e a mandioca o feijão subindo a copa

melancia e o melão com suas ramas soltando

abóbora e a batata doce prá depois sair a flor

tudo lá no fértil chão em seguida canivetando

A tarde tudo se finda Vem primeiro as melancias

outro temporal formando o melão e o gerimum

o mundo ficando escuro nisso vem o mês de março

e o homem terminando como ao nordeste é comum

todo seu serviço tenso fim de março ou em abril

vai o fim do dia chegando que os meses do jejum

Nisto o inverno pegou Esses meses aos sertanejos

como diz o ancião que é feito a jejuação

que fez suas profecias justo na semana santa

com pedras de sal na mão que eles sentem no coração

diz: que o ano é um dos que; lembram a morte de Jesus

vai ter fartura o sertão a sexta feira da paixão

No ano bom de inverno Passa a semana santa

começa logo em janeiro que é só de caristia

as primeiras chuvas caindo mas o homem com a fartura

corre o homem para o terreiro faz a páscoa com simpatia

faz logo as plantações porque tem tudo de verde

de milho e feijão ligeiro para o tempero a pescaria



09 10



A caatinga do sertão Nesse tempo o agricultor de secas enverdeceram tem com bastante farturas

muitas águas nos açudes as espigas de milho passam

nos rios os peixes desceram de verdes para maduras

enquanto outros subiam vão prá cata do feijão

se falar nos que morreram a de algodão bem seguras

Todos aqui com inverno Fim de safra vem colheita

tem na mesa o feijão prá ninguém há ambição

o milho para cuscuz homens ajudando a outros

o arroz que faz baião sem falar a diversão

o peixe para tempero quando chega o mês junino

a caça e a criação que traz também devoção

Nos terreiros tem galinhas Todos nós agricultores

patos, perus e capotes no rosto a satisfação

manga prá amadurecer fazemos o agradecimento

abafadas dentro de potes na hora da refeição

caju, goiabas e bananas ao nosso pai celestial

água fresca nos serrotes adeus fome no sertão

Lá no campo tem a flor O mês seis é o mês de junho

linda prá desabrochar grande comemoração

toda molhada de orvalho é festa tradicional

de um sereno sem luar nossa noite de São João

da brisa mansa que cobre tem forró, dança e fogueira

esse infinito pomar bomba, foguete e balão



11 12



Moça, rapaz comemoram Isso sim que é o lugar

todos juntos nos momentos para se poder viver

fazem preces com santo Antonio de tudo tem com fartura

outros cumprem juramentos não se ver ninguém sofrer

em bacias vêem os rostos em tudo que se pensar

pensando em casamentos no sertão tem pra comer

Bem em frente de uma casa Deus nos dando um bom inverno

que fica na fazenda as lavouras bem segura

tem uma grande fogueira não há riqueza melhor

moças vestidas de renda todas mesas com fartura

dançam samba coladinhas aqui nós temos bastante

nos rapazes, músicas da emenda sossego paz e cultura

Isto ao redor da fogueira

dando viva a são João

assam milho, comem pamonhas

partem bolos soltam balão

também dançam sorridentes

uns dos outros apertam a mão

No sertão tem vaqueijadas

festa de apartação

chegam diversos vaqueiros

montados em alazão

alguns vestidos de couros

roupas chamadas gibão



13 14



De um inverno para o outro Esperam prá o dia vinte

começa as experiências começa logo a questão

sai os anúncios nos rádios que é o mês de Janeiro

homens formados em ciências dia de São Sebastião

fazem previsões do espaço é um dos bem aguardado

com grande monovolências que chova em nosso sertão

Enquanto o homem sabido Diz o velho é um castigo

estuda a meteorologia veja se isto não é;

o charlatão se previne não teve chuva em Janeiro

com a sua profecia Fevereiro não faz fé

o ancião lá no campo agora resta esperar

tem a sua teimosia prá o dia de são José

No mês de dezembro tem: Chega março aos dezenove

dia treze esperado a chuva também não veio

que é de santa Luzia o homem já se aperreia

pois é sempre bem marcado procurando logo um meio

com treze pedras de sal de vender o pouco que tem

ou então fica adiado começa o seu devaneio

No dia treze não chove É ai onde começa

o velho fica calado os seus grandes desenganos

apela prá vinte e cinco combina com a mulher

outro dia aguardado pensando em mais de mil planos

se a barra não sair resolvem irem ao sudeste

o inverno, é desenganado diz: a mulher junte os panos



15 16



Leitores quando é seco Tanto o homem como animais

se torna estreito o sertão ficam dias sem comer

quando se faz estiagem os animais faltam o pasto

resseca a plantação e o homem o que fazer

o solo vai se rachando com seus serviços braçais

de doer no coração desnutre e quer morrer

Estes são todos os fatos O jegue que reclinava

se é seco no Nordeste isso ele hoje não faz

com o sol claro, céu azul sem força pra abrir a boca

doença chamada peste de andar não é capaz

o vento soprando muito como ele se expressava

levando a areia do agreste nas invernadas atraz

Tudo isto geralmente A rebançã juriti

só quem paga é o sertão também já se ausentou

não havendo chuva há o bem-ti-vi do anúncio

sofrimento na região bateu asas e voou

fica escasso ao litoral o boi de fome tão triste

os que se escolhe em agrião nunca mais se espojou

Os rios as águas secam Os peixes que desovaram

os pastos que é bom não tem em outras águas subiram

alimentação dos brutos galinhas, porcos, perus

fica difícil também essas raças se extinguiram

toda esperança é perdida capotes cantam estou fraco

a fome vem do além patos sem águas fugiram





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A passarada mudou-se As águas dos poços secam

porque lhe faltou o grão açudes secam também

de sede não vão morrer os cacimbões muito raros

procuram outro torrão pois a bebida não tem

onde existe o alimento os animais fazem refúgios

muitas sementes no chão só que não é pra Belém

Todos os animais fogem A safra do algodão

abadonando o sertão a peste quem acabou

os nômades desaparecem devido a falta de chuva

do preá ao gavião o homem puverizou

o urubu é quem lucra mas, a terra de tão seca

carniça não falta não nem a carcará brotou

A caatinga que era verde Quando o inverno é ruim

se transformou de repente aparecem o gafanhoto

até os animais répteis estragando milho e feijão

como a cobra serpente deixando a planta o canhoto

ficam extintas das matas no algodão dá o bicudo

do sertão tão decadentes acabando com o biloto

As árvores que são frutíferas Quando o sertanejo é,

suas folhas vão caindo obrigado a viajar

seus caules ficando podres deixar sua terra natal

as galhas todas partindo seu doce berço o seu lar

por não terem sais minerais devido a seca terível

e as clorofilas sumindo que vem tomando o lugar



19 20

Vende logo o seu jumento Vão para cidade grande

galinha , pato e peru para aumentar seu sofrer

quando olha para o céu passam frio , sede e fome

que avista o urubu tem que pedir pra comer

voando sobre a carcaça emprego custa arranjar

do finado cururu o que lá tem quer vender

Procura um fazendeiro Se o destino abraçar

de uma média condição e a sorte não se esconder

vende logo seu ranchinho arranjando um bom emprego

seu pedacinho de chão um patrão lhe proteger

reúne toda a família um canto para morar

pra pegar embarcação pode até sobreviver

Em cima do pau de arara Mas se for só ilusão

vai mesa, pote e panela de todo sonho os enganos

seus filhinhos vão comendo da terra distante

feijão com pão na tijela jogados como ciganos

o que lhe resta é pouco sofrendo pelos relentos

deixar a pobre cadela não dando certo seus planos

Segue o caminho na estrada Quanto tempo lá se passam

do nosso imenso Brasil todos jogados no chão

em busca de encontrar sem saberem os poderosos

um patrão que seja viril que aquela família cão

não só em pessoa humana é quem com força dos braços

também que seja sutil mandam as mesas o feijão









21 22



Por baixo de viadutos Um dia regressarei

Pontes, boeiras em favelas prá viver no meu torrão

Se de manhã tem o que se Jesus lembrar de mim

lhe coloquem nas panelas eu peço de coração

a tarde já não tem mais ajude este imigrante

sai a pedir nas vielas tenha dele compaixão

Assim sofre o nordestino Sei bem que aquele homem

muitos anos sem um lar disposto a trabalhar

sempre com a esperança passa anos e mais anos

de um dia regressar isto sem poder voltar

e doido prá saber notícia sofrendo humilhações

do seu querido lugar lembrando o antigo lar.

Naquela terra distante Rogo a Deus criador

tudo é muito diferente ampare um nordestino

gente rouba, mata e morre imploro desde menino

só em ver fica doente mas tudo isso é em vão

exclamando o sertanejo um dia vem a benção

sou mais o meu torrão quente! Nunca Deus esquece alguém

Como estará o ranchinho Dando seu amor também

que em outras mãos ficou os que ele estende a mão

minha ex-terra e a vaquinha desse jeito vive o homem

será que já melhorou? aqui do nosso sertão

ai quem me dera estar lá num ano barriga cheia

eu sei que um dia eu vou! tendo outro fome, ilusão

arriscando a morrer de sede

sossego, ninguém tem não.