VERSO QUE FALA SOBRE O INVERNO OU SECA NOS RINCÕES DO NORDESTE BRASILEIRO AQUI RETRATA A REALIDADE NUA E CRUA DO NOSSO POVO SOFRIDO DO ALTO SERTAO QUE NASCEM NA CARIDADE ESPERANDO ESMOLAS DO GOVERNO E MORREM NA ESPERANÇA QUE ISSO AQUI UM DIA TUDO VAI MELHORAR......
01 02
Peguei no pincel do tempo Nuvens escuras cobrem o céu
tinta da imaginação Quando como serra
papel peguei no espaço relâmpagos muito fortes
com deus a concentração como claridão de guerra
para falar do inverno trovões dando estampidos
no nosso largo sertão de estremecer a terra
É pelo mês de Outubro A terra sente o calor
o homem poda o algodão a temperatura aumenta
aquelas matas mais virgens as nuvens vão se rasgando
é feita a devastação o espaço não aguenta
encoivara e arranca o toco o pêso imenso das águas
bota fogo e queima o chão lá de cima se arrebenta
Tudo isso são preparo Alaga o nosso planeta
para uma boa agricultura enchem lagos córregos e rios
corta terra prega arame campo o gado se espanta
cerca com pouca espessura do mato ouve assovios
transforma o solo saudável dos animais sem abrigos
desta nossa terra dura gemem e sentem frios
Em janeiro e fevereiro Bem que disse, bem que disse
ou mesmo o mês de março Anuncia o bem-te-vi
já sentimos o calor a chegada do inverno
aquele forte mormaço lá responde a juriti
esse sim é o período também canta o sabiá
da chuva vir do espaço na estrada no jataí
03 04
Canta também anum branco No chiqueiro ronca o porco
em cima da ingazeira bezerro no curral mama
o pássaro preto que pula vaqueiro tirando leite
nos galhos da capoeira se escorregando na lama
e começa a aparecer a esposa treme de frio
o velho fura – barreira e se espreguiça na cama
Já nos rios correm os peixes Em alguns lares o aperreio
fazendo as suas desovas com goteira que respinga
as aranhas muito espertas troca de móveis e de leito
saem de dentro das covas e menino choruminga
para não se afogarem e o pobre pai de família
dando do inverno as provas na sua casa toma pinga
Durante o dia o sol quente Já outros dormem tranquilo
e sempre, sempre o calor nada disso lhe encomodas
a noite muda de clima ouve os pingos no telhado
como ordena o senhor sapos nos lagos fazem rodas
o infinito escurece poetas cantam alegres
por ordem superior nos rádios canções e modas
O maestro que desperta o pobre agricultor
é o velho galo de campina tranqüiliza o coração
com o seu formoso canto dorme pouco, pensa muito
a garganta não desafina em cuidar da plantação
desse pássaro colorido cobre seus filhos que dormem
como objetos em vitrina uns em redes outros no chão
05 06
E todos ali dormindo Assim amanhece o dia
só o sertanejo escuta o sol no monte surgindo
o estrondo do trovão com raios aquecedor
que responde lá na gruta todo frio vai cobrindo
isso é a seca com o inverno duma noite enchuvalhada
que quer fazer pergunta a luta vão prosseguindo
E passa a noite pensando Nessas alturas a mulher
“as coisas vão melhorar já tem feito o seu café
corre o sentido na roça naquele fogão que solta
que não deixou de queimar fumaça no chaminé
pede a Deus que venha o dia e todos comem tranquilos
para poder ir plantar” sempre em Deus sua fé
Logo o jumento relincha O homem vai sasisfeito
informando com alegria se atola nos caminhos
é a aurora rompendo nos poços das água presas
os pássaros dão melodia que juntam nos buraquinhos
nas copas dos arvoredos os garotos correm e atira
sai a noite e chega o dia pedrada nos passarinhos
Nisto todos se levantam Chega o homem no roçado
o sol inda prá nascer com a enxada cava o chão
bate a enxada lá fora a esposa e os meninos
vai a semente escolher vão semeando com a mão
o pai pede acabaça grão de milho em uma cova
prá o filho mais novo encher noutra cova vai feijão
07 08
Milho, feijão é plantado E no fim de fevereiro
arroz, verdura, algodão o milho vai penduando
gergelim e a mandioca o feijão subindo a copa
melancia e o melão com suas ramas soltando
abóbora e a batata doce prá depois sair a flor
tudo lá no fértil chão em seguida canivetando
A tarde tudo se finda Vem primeiro as melancias
outro temporal formando o melão e o gerimum
o mundo ficando escuro nisso vem o mês de março
e o homem terminando como ao nordeste é comum
todo seu serviço tenso fim de março ou em abril
vai o fim do dia chegando que os meses do jejum
Nisto o inverno pegou Esses meses aos sertanejos
como diz o ancião que é feito a jejuação
que fez suas profecias justo na semana santa
com pedras de sal na mão que eles sentem no coração
diz: que o ano é um dos que; lembram a morte de Jesus
vai ter fartura o sertão a sexta feira da paixão
No ano bom de inverno Passa a semana santa
começa logo em janeiro que é só de caristia
as primeiras chuvas caindo mas o homem com a fartura
corre o homem para o terreiro faz a páscoa com simpatia
faz logo as plantações porque tem tudo de verde
de milho e feijão ligeiro para o tempero a pescaria
09 10
A caatinga do sertão Nesse tempo o agricultor de secas enverdeceram tem com bastante farturas
muitas águas nos açudes as espigas de milho passam
nos rios os peixes desceram de verdes para maduras
enquanto outros subiam vão prá cata do feijão
se falar nos que morreram a de algodão bem seguras
Todos aqui com inverno Fim de safra vem colheita
tem na mesa o feijão prá ninguém há ambição
o milho para cuscuz homens ajudando a outros
o arroz que faz baião sem falar a diversão
o peixe para tempero quando chega o mês junino
a caça e a criação que traz também devoção
Nos terreiros tem galinhas Todos nós agricultores
patos, perus e capotes no rosto a satisfação
manga prá amadurecer fazemos o agradecimento
abafadas dentro de potes na hora da refeição
caju, goiabas e bananas ao nosso pai celestial
água fresca nos serrotes adeus fome no sertão
Lá no campo tem a flor O mês seis é o mês de junho
linda prá desabrochar grande comemoração
toda molhada de orvalho é festa tradicional
de um sereno sem luar nossa noite de São João
da brisa mansa que cobre tem forró, dança e fogueira
esse infinito pomar bomba, foguete e balão
11 12
Moça, rapaz comemoram Isso sim que é o lugar
todos juntos nos momentos para se poder viver
fazem preces com santo Antonio de tudo tem com fartura
outros cumprem juramentos não se ver ninguém sofrer
em bacias vêem os rostos em tudo que se pensar
pensando em casamentos no sertão tem pra comer
Bem em frente de uma casa Deus nos dando um bom inverno
que fica na fazenda as lavouras bem segura
tem uma grande fogueira não há riqueza melhor
moças vestidas de renda todas mesas com fartura
dançam samba coladinhas aqui nós temos bastante
nos rapazes, músicas da emenda sossego paz e cultura
Isto ao redor da fogueira
dando viva a são João
assam milho, comem pamonhas
partem bolos soltam balão
também dançam sorridentes
uns dos outros apertam a mão
No sertão tem vaqueijadas
festa de apartação
chegam diversos vaqueiros
montados em alazão
alguns vestidos de couros
roupas chamadas gibão
13 14
De um inverno para o outro Esperam prá o dia vinte
começa as experiências começa logo a questão
sai os anúncios nos rádios que é o mês de Janeiro
homens formados em ciências dia de São Sebastião
fazem previsões do espaço é um dos bem aguardado
com grande monovolências que chova em nosso sertão
Enquanto o homem sabido Diz o velho é um castigo
estuda a meteorologia veja se isto não é;
o charlatão se previne não teve chuva em Janeiro
com a sua profecia Fevereiro não faz fé
o ancião lá no campo agora resta esperar
tem a sua teimosia prá o dia de são José
No mês de dezembro tem: Chega março aos dezenove
dia treze esperado a chuva também não veio
que é de santa Luzia o homem já se aperreia
pois é sempre bem marcado procurando logo um meio
com treze pedras de sal de vender o pouco que tem
ou então fica adiado começa o seu devaneio
No dia treze não chove É ai onde começa
o velho fica calado os seus grandes desenganos
apela prá vinte e cinco combina com a mulher
outro dia aguardado pensando em mais de mil planos
se a barra não sair resolvem irem ao sudeste
o inverno, é desenganado diz: a mulher junte os panos
15 16
Leitores quando é seco Tanto o homem como animais
se torna estreito o sertão ficam dias sem comer
quando se faz estiagem os animais faltam o pasto
resseca a plantação e o homem o que fazer
o solo vai se rachando com seus serviços braçais
de doer no coração desnutre e quer morrer
Estes são todos os fatos O jegue que reclinava
se é seco no Nordeste isso ele hoje não faz
com o sol claro, céu azul sem força pra abrir a boca
doença chamada peste de andar não é capaz
o vento soprando muito como ele se expressava
levando a areia do agreste nas invernadas atraz
Tudo isto geralmente A rebançã juriti
só quem paga é o sertão também já se ausentou
não havendo chuva há o bem-ti-vi do anúncio
sofrimento na região bateu asas e voou
fica escasso ao litoral o boi de fome tão triste
os que se escolhe em agrião nunca mais se espojou
Os rios as águas secam Os peixes que desovaram
os pastos que é bom não tem em outras águas subiram
alimentação dos brutos galinhas, porcos, perus
fica difícil também essas raças se extinguiram
toda esperança é perdida capotes cantam estou fraco
a fome vem do além patos sem águas fugiram
17 18
A passarada mudou-se As águas dos poços secam
porque lhe faltou o grão açudes secam também
de sede não vão morrer os cacimbões muito raros
procuram outro torrão pois a bebida não tem
onde existe o alimento os animais fazem refúgios
muitas sementes no chão só que não é pra Belém
Todos os animais fogem A safra do algodão
abadonando o sertão a peste quem acabou
os nômades desaparecem devido a falta de chuva
do preá ao gavião o homem puverizou
o urubu é quem lucra mas, a terra de tão seca
carniça não falta não nem a carcará brotou
A caatinga que era verde Quando o inverno é ruim
se transformou de repente aparecem o gafanhoto
até os animais répteis estragando milho e feijão
como a cobra serpente deixando a planta o canhoto
ficam extintas das matas no algodão dá o bicudo
do sertão tão decadentes acabando com o biloto
As árvores que são frutíferas Quando o sertanejo é,
suas folhas vão caindo obrigado a viajar
seus caules ficando podres deixar sua terra natal
as galhas todas partindo seu doce berço o seu lar
por não terem sais minerais devido a seca terível
e as clorofilas sumindo que vem tomando o lugar
19 20
Vende logo o seu jumento Vão para cidade grande
galinha , pato e peru para aumentar seu sofrer
quando olha para o céu passam frio , sede e fome
que avista o urubu tem que pedir pra comer
voando sobre a carcaça emprego custa arranjar
do finado cururu o que lá tem quer vender
Procura um fazendeiro Se o destino abraçar
de uma média condição e a sorte não se esconder
vende logo seu ranchinho arranjando um bom emprego
seu pedacinho de chão um patrão lhe proteger
reúne toda a família um canto para morar
pra pegar embarcação pode até sobreviver
Em cima do pau de arara Mas se for só ilusão
vai mesa, pote e panela de todo sonho os enganos
seus filhinhos vão comendo da terra distante
feijão com pão na tijela jogados como ciganos
o que lhe resta é pouco sofrendo pelos relentos
deixar a pobre cadela não dando certo seus planos
Segue o caminho na estrada Quanto tempo lá se passam
do nosso imenso Brasil todos jogados no chão
em busca de encontrar sem saberem os poderosos
um patrão que seja viril que aquela família cão
não só em pessoa humana é quem com força dos braços
também que seja sutil mandam as mesas o feijão
21 22
Por baixo de viadutos Um dia regressarei
Pontes, boeiras em favelas prá viver no meu torrão
Se de manhã tem o que se Jesus lembrar de mim
lhe coloquem nas panelas eu peço de coração
a tarde já não tem mais ajude este imigrante
sai a pedir nas vielas tenha dele compaixão
Assim sofre o nordestino Sei bem que aquele homem
muitos anos sem um lar disposto a trabalhar
sempre com a esperança passa anos e mais anos
de um dia regressar isto sem poder voltar
e doido prá saber notícia sofrendo humilhações
do seu querido lugar lembrando o antigo lar.
Naquela terra distante Rogo a Deus criador
tudo é muito diferente ampare um nordestino
gente rouba, mata e morre imploro desde menino
só em ver fica doente mas tudo isso é em vão
exclamando o sertanejo um dia vem a benção
sou mais o meu torrão quente! Nunca Deus esquece alguém
Como estará o ranchinho Dando seu amor também
que em outras mãos ficou os que ele estende a mão
minha ex-terra e a vaquinha desse jeito vive o homem
será que já melhorou? aqui do nosso sertão
ai quem me dera estar lá num ano barriga cheia
eu sei que um dia eu vou! tendo outro fome, ilusão
arriscando a morrer de sede
sossego, ninguém tem não.
01 02
Peguei no pincel do tempo Nuvens escuras cobrem o céu
tinta da imaginação Quando como serra
papel peguei no espaço relâmpagos muito fortes
com deus a concentração como claridão de guerra
para falar do inverno trovões dando estampidos
no nosso largo sertão de estremecer a terra
É pelo mês de Outubro A terra sente o calor
o homem poda o algodão a temperatura aumenta
aquelas matas mais virgens as nuvens vão se rasgando
é feita a devastação o espaço não aguenta
encoivara e arranca o toco o pêso imenso das águas
bota fogo e queima o chão lá de cima se arrebenta
Tudo isso são preparo Alaga o nosso planeta
para uma boa agricultura enchem lagos córregos e rios
corta terra prega arame campo o gado se espanta
cerca com pouca espessura do mato ouve assovios
transforma o solo saudável dos animais sem abrigos
desta nossa terra dura gemem e sentem frios
Em janeiro e fevereiro Bem que disse, bem que disse
ou mesmo o mês de março Anuncia o bem-te-vi
já sentimos o calor a chegada do inverno
aquele forte mormaço lá responde a juriti
esse sim é o período também canta o sabiá
da chuva vir do espaço na estrada no jataí
03 04
Canta também anum branco No chiqueiro ronca o porco
em cima da ingazeira bezerro no curral mama
o pássaro preto que pula vaqueiro tirando leite
nos galhos da capoeira se escorregando na lama
e começa a aparecer a esposa treme de frio
o velho fura – barreira e se espreguiça na cama
Já nos rios correm os peixes Em alguns lares o aperreio
fazendo as suas desovas com goteira que respinga
as aranhas muito espertas troca de móveis e de leito
saem de dentro das covas e menino choruminga
para não se afogarem e o pobre pai de família
dando do inverno as provas na sua casa toma pinga
Durante o dia o sol quente Já outros dormem tranquilo
e sempre, sempre o calor nada disso lhe encomodas
a noite muda de clima ouve os pingos no telhado
como ordena o senhor sapos nos lagos fazem rodas
o infinito escurece poetas cantam alegres
por ordem superior nos rádios canções e modas
O maestro que desperta o pobre agricultor
é o velho galo de campina tranqüiliza o coração
com o seu formoso canto dorme pouco, pensa muito
a garganta não desafina em cuidar da plantação
desse pássaro colorido cobre seus filhos que dormem
como objetos em vitrina uns em redes outros no chão
05 06
E todos ali dormindo Assim amanhece o dia
só o sertanejo escuta o sol no monte surgindo
o estrondo do trovão com raios aquecedor
que responde lá na gruta todo frio vai cobrindo
isso é a seca com o inverno duma noite enchuvalhada
que quer fazer pergunta a luta vão prosseguindo
E passa a noite pensando Nessas alturas a mulher
“as coisas vão melhorar já tem feito o seu café
corre o sentido na roça naquele fogão que solta
que não deixou de queimar fumaça no chaminé
pede a Deus que venha o dia e todos comem tranquilos
para poder ir plantar” sempre em Deus sua fé
Logo o jumento relincha O homem vai sasisfeito
informando com alegria se atola nos caminhos
é a aurora rompendo nos poços das água presas
os pássaros dão melodia que juntam nos buraquinhos
nas copas dos arvoredos os garotos correm e atira
sai a noite e chega o dia pedrada nos passarinhos
Nisto todos se levantam Chega o homem no roçado
o sol inda prá nascer com a enxada cava o chão
bate a enxada lá fora a esposa e os meninos
vai a semente escolher vão semeando com a mão
o pai pede acabaça grão de milho em uma cova
prá o filho mais novo encher noutra cova vai feijão
07 08
Milho, feijão é plantado E no fim de fevereiro
arroz, verdura, algodão o milho vai penduando
gergelim e a mandioca o feijão subindo a copa
melancia e o melão com suas ramas soltando
abóbora e a batata doce prá depois sair a flor
tudo lá no fértil chão em seguida canivetando
A tarde tudo se finda Vem primeiro as melancias
outro temporal formando o melão e o gerimum
o mundo ficando escuro nisso vem o mês de março
e o homem terminando como ao nordeste é comum
todo seu serviço tenso fim de março ou em abril
vai o fim do dia chegando que os meses do jejum
Nisto o inverno pegou Esses meses aos sertanejos
como diz o ancião que é feito a jejuação
que fez suas profecias justo na semana santa
com pedras de sal na mão que eles sentem no coração
diz: que o ano é um dos que; lembram a morte de Jesus
vai ter fartura o sertão a sexta feira da paixão
No ano bom de inverno Passa a semana santa
começa logo em janeiro que é só de caristia
as primeiras chuvas caindo mas o homem com a fartura
corre o homem para o terreiro faz a páscoa com simpatia
faz logo as plantações porque tem tudo de verde
de milho e feijão ligeiro para o tempero a pescaria
09 10
A caatinga do sertão Nesse tempo o agricultor de secas enverdeceram tem com bastante farturas
muitas águas nos açudes as espigas de milho passam
nos rios os peixes desceram de verdes para maduras
enquanto outros subiam vão prá cata do feijão
se falar nos que morreram a de algodão bem seguras
Todos aqui com inverno Fim de safra vem colheita
tem na mesa o feijão prá ninguém há ambição
o milho para cuscuz homens ajudando a outros
o arroz que faz baião sem falar a diversão
o peixe para tempero quando chega o mês junino
a caça e a criação que traz também devoção
Nos terreiros tem galinhas Todos nós agricultores
patos, perus e capotes no rosto a satisfação
manga prá amadurecer fazemos o agradecimento
abafadas dentro de potes na hora da refeição
caju, goiabas e bananas ao nosso pai celestial
água fresca nos serrotes adeus fome no sertão
Lá no campo tem a flor O mês seis é o mês de junho
linda prá desabrochar grande comemoração
toda molhada de orvalho é festa tradicional
de um sereno sem luar nossa noite de São João
da brisa mansa que cobre tem forró, dança e fogueira
esse infinito pomar bomba, foguete e balão
11 12
Moça, rapaz comemoram Isso sim que é o lugar
todos juntos nos momentos para se poder viver
fazem preces com santo Antonio de tudo tem com fartura
outros cumprem juramentos não se ver ninguém sofrer
em bacias vêem os rostos em tudo que se pensar
pensando em casamentos no sertão tem pra comer
Bem em frente de uma casa Deus nos dando um bom inverno
que fica na fazenda as lavouras bem segura
tem uma grande fogueira não há riqueza melhor
moças vestidas de renda todas mesas com fartura
dançam samba coladinhas aqui nós temos bastante
nos rapazes, músicas da emenda sossego paz e cultura
Isto ao redor da fogueira
dando viva a são João
assam milho, comem pamonhas
partem bolos soltam balão
também dançam sorridentes
uns dos outros apertam a mão
No sertão tem vaqueijadas
festa de apartação
chegam diversos vaqueiros
montados em alazão
alguns vestidos de couros
roupas chamadas gibão
13 14
De um inverno para o outro Esperam prá o dia vinte
começa as experiências começa logo a questão
sai os anúncios nos rádios que é o mês de Janeiro
homens formados em ciências dia de São Sebastião
fazem previsões do espaço é um dos bem aguardado
com grande monovolências que chova em nosso sertão
Enquanto o homem sabido Diz o velho é um castigo
estuda a meteorologia veja se isto não é;
o charlatão se previne não teve chuva em Janeiro
com a sua profecia Fevereiro não faz fé
o ancião lá no campo agora resta esperar
tem a sua teimosia prá o dia de são José
No mês de dezembro tem: Chega março aos dezenove
dia treze esperado a chuva também não veio
que é de santa Luzia o homem já se aperreia
pois é sempre bem marcado procurando logo um meio
com treze pedras de sal de vender o pouco que tem
ou então fica adiado começa o seu devaneio
No dia treze não chove É ai onde começa
o velho fica calado os seus grandes desenganos
apela prá vinte e cinco combina com a mulher
outro dia aguardado pensando em mais de mil planos
se a barra não sair resolvem irem ao sudeste
o inverno, é desenganado diz: a mulher junte os panos
15 16
Leitores quando é seco Tanto o homem como animais
se torna estreito o sertão ficam dias sem comer
quando se faz estiagem os animais faltam o pasto
resseca a plantação e o homem o que fazer
o solo vai se rachando com seus serviços braçais
de doer no coração desnutre e quer morrer
Estes são todos os fatos O jegue que reclinava
se é seco no Nordeste isso ele hoje não faz
com o sol claro, céu azul sem força pra abrir a boca
doença chamada peste de andar não é capaz
o vento soprando muito como ele se expressava
levando a areia do agreste nas invernadas atraz
Tudo isto geralmente A rebançã juriti
só quem paga é o sertão também já se ausentou
não havendo chuva há o bem-ti-vi do anúncio
sofrimento na região bateu asas e voou
fica escasso ao litoral o boi de fome tão triste
os que se escolhe em agrião nunca mais se espojou
Os rios as águas secam Os peixes que desovaram
os pastos que é bom não tem em outras águas subiram
alimentação dos brutos galinhas, porcos, perus
fica difícil também essas raças se extinguiram
toda esperança é perdida capotes cantam estou fraco
a fome vem do além patos sem águas fugiram
17 18
A passarada mudou-se As águas dos poços secam
porque lhe faltou o grão açudes secam também
de sede não vão morrer os cacimbões muito raros
procuram outro torrão pois a bebida não tem
onde existe o alimento os animais fazem refúgios
muitas sementes no chão só que não é pra Belém
Todos os animais fogem A safra do algodão
abadonando o sertão a peste quem acabou
os nômades desaparecem devido a falta de chuva
do preá ao gavião o homem puverizou
o urubu é quem lucra mas, a terra de tão seca
carniça não falta não nem a carcará brotou
A caatinga que era verde Quando o inverno é ruim
se transformou de repente aparecem o gafanhoto
até os animais répteis estragando milho e feijão
como a cobra serpente deixando a planta o canhoto
ficam extintas das matas no algodão dá o bicudo
do sertão tão decadentes acabando com o biloto
As árvores que são frutíferas Quando o sertanejo é,
suas folhas vão caindo obrigado a viajar
seus caules ficando podres deixar sua terra natal
as galhas todas partindo seu doce berço o seu lar
por não terem sais minerais devido a seca terível
e as clorofilas sumindo que vem tomando o lugar
19 20
Vende logo o seu jumento Vão para cidade grande
galinha , pato e peru para aumentar seu sofrer
quando olha para o céu passam frio , sede e fome
que avista o urubu tem que pedir pra comer
voando sobre a carcaça emprego custa arranjar
do finado cururu o que lá tem quer vender
Procura um fazendeiro Se o destino abraçar
de uma média condição e a sorte não se esconder
vende logo seu ranchinho arranjando um bom emprego
seu pedacinho de chão um patrão lhe proteger
reúne toda a família um canto para morar
pra pegar embarcação pode até sobreviver
Em cima do pau de arara Mas se for só ilusão
vai mesa, pote e panela de todo sonho os enganos
seus filhinhos vão comendo da terra distante
feijão com pão na tijela jogados como ciganos
o que lhe resta é pouco sofrendo pelos relentos
deixar a pobre cadela não dando certo seus planos
Segue o caminho na estrada Quanto tempo lá se passam
do nosso imenso Brasil todos jogados no chão
em busca de encontrar sem saberem os poderosos
um patrão que seja viril que aquela família cão
não só em pessoa humana é quem com força dos braços
também que seja sutil mandam as mesas o feijão
21 22
Por baixo de viadutos Um dia regressarei
Pontes, boeiras em favelas prá viver no meu torrão
Se de manhã tem o que se Jesus lembrar de mim
lhe coloquem nas panelas eu peço de coração
a tarde já não tem mais ajude este imigrante
sai a pedir nas vielas tenha dele compaixão
Assim sofre o nordestino Sei bem que aquele homem
muitos anos sem um lar disposto a trabalhar
sempre com a esperança passa anos e mais anos
de um dia regressar isto sem poder voltar
e doido prá saber notícia sofrendo humilhações
do seu querido lugar lembrando o antigo lar.
Naquela terra distante Rogo a Deus criador
tudo é muito diferente ampare um nordestino
gente rouba, mata e morre imploro desde menino
só em ver fica doente mas tudo isso é em vão
exclamando o sertanejo um dia vem a benção
sou mais o meu torrão quente! Nunca Deus esquece alguém
Como estará o ranchinho Dando seu amor também
que em outras mãos ficou os que ele estende a mão
minha ex-terra e a vaquinha desse jeito vive o homem
será que já melhorou? aqui do nosso sertão
ai quem me dera estar lá num ano barriga cheia
eu sei que um dia eu vou! tendo outro fome, ilusão
arriscando a morrer de sede
sossego, ninguém tem não.
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